sábado, 8 de janeiro de 2011

O INTRADUZÍVEL SENTIR

Li em algum lugar: para que tenhamos saúde é preciso educar as emoções.
Educar as emoções?
Como educar o que se sente, aquela coisa que vai e vem e, vai e volta de forma inexplicável, intraduzível, a cada nova experiência...

Emoção é um estado de espírito, um estilo particular, uma coisa muito íntima e, indefinível para quem não a está vivendo. Indecifrável para os outros.

Como fazer isso; como educar o que posso sentir?
Como educar o que se sente?
Com certeza, não é impondo. Sinta isso ou aquilo!
Ou, tentando controlar o que cada um deve sentir, segundo os padrões sociais e da mídia: vencedor é o que sente isso, frente àquilo... Tá na moda; é da hora!

Embora deva ser soberano; o sentir é intraduzível.
Tal e qual, alguém dizer que, está com mal estar ou bem estar.
O tal do bem estar, ninguém questiona. Esse ninguém pergunta como e por que; já, o tal do mal estar; esse deixa os em torno em polvorosa; pois, cutuca a falta de soberania emocional cujo principal vetor é a tal de educação.
- Explique o que você está sentindo! - Fala pelo amor de Deus! - Vamos para o Pronto Socorro! - Já! (como se algum médico pudesse ter aprendido a ler as emoções e a medir os sentimentos).

Cultuar e rotular emoções como negativas gera a condição de vítima.
Cuidado com a “vítimação” – Esse estado de sentir-se funciona como uma droga cultural: vicia.

A paranóia contaminou a educação emocional com conceitos de certo e errado e de valores sociais, o que impede as crianças de tomarem contato com suas próprias emoções, preocupadas com o que os outros vão pensar ou dizer do que estão sentindo.
É pecado ficar com raiva!
Papai do céu não gosta que você tenha inveja!
Que coisa mais feia meu filho, você está com ciúmes de seu irmão!
Os adultos podam ou tentam cortar pela raiz algumas experiências emocionais da criança; que interpretam como inadequadas sem permitir que ela as sinta na alma, para depois aprender a discernir se as descarta ou se as cultiva.

O que seria da emoção sem o instinto que a comanda e da razão que a direciona?
Talvez educar as emoções seja adquirir soberania emocional; que é decidir o que fazer com elas sem permitir interferências externas.
Para que se consiga ser soberano nas emoções é preciso vivê-las, dar permissão para que elas se manifestem sem julgá-las certas ou erradas; deixá-las fluir sem impor condições, é o primeiro passo.

Ao permitirmos que a criança viva e sinta suas emoções só, e, principalmente, que aprenda a decidir o que fazer com elas; daí em diante; nós a estamos vacinando contra atitudes emocionais que não passam pelo crivo da razão.
Agir sob fortes emoções ou sob o comando total da emoção costuma levar a criança: a quebrar um brinquedo; a dar ou a levar umas mordidas, beliscões do coleguinha. Caso seja impedida de aprender, no adulto pode conduzir: à cadeia, ao endividamento...

É preciso que a criança aprenda a pensar/sentir/agir de forma conjugada, automaticamente. Mas, para isso é preciso mudar o perfil controlador do adulto. Reformular o sistema educacional.

Criamos um mundo íntimo excessivamente racionalizado e partimos em pedaços ou desintegramos nossa realidade. À primeira vista não perceber adequadamente as emoções não parece fazer muita diferença na vida cotidiana das pessoas; mas faz.
Não dar permissão para sentir as emoções atrapalha a percepção da realidade.
A emoção, o sentir é o presente, a realidade.
Quando vivemos num mundo íntimo com predomínio da racionalidade e ignoramos as emoções; estamos vivendo uma vida ilusória e, além disso, sem graça. A racionalidade é o vir a ser; ou seja, ainda é ilusão.

A criança pode ser ajudada a sentir cada uma das suas emoções sem censura prévia. Numa primeira fase basta que os adultos não impeçam a criança de sentir suas emoções.
Para adultos que já percebem a necessidade de reestruturar seu sistema emocional, é possível criar situações para que se aprenda a sentir e desenvolver as emoções campo emocional. A técnica do Psicodrama é uma das ferramentas; claro que há muitas outras.

Devemos estimular constantemente a criança a verbalizar suas emoções, quaisquer que sejam elas. Isso é fundamental para a sua saúde psicológica e física. Quer um exemplo? Experimente acumular raiva ou ódio e curta a sua gastrite ou úlcera de estômago, ou quem sabe, até uma deliciosa hipertensão arterial. Fique brincando de guardar suas mágoas e curta o seu câncer.

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