domingo, 26 de setembro de 2010

PLANOS DE SAÚDE ATRAVESSANDO A RELAÇÃO MÉDICO E PACIENTE

Adoecemos em larga escala; e numa sociedade onde tudo se vende e compra; é lógico que esse promissor mercado seria explorado. O seguro saúde é um intermediário entre o “produtor de saúde” (recursos médico - diagnósticos) e o “comprador de saúde” (doente em potencial) que compromete boa parte de seus ganhos para ter garantido o acesso a esse mercado de saúde.
A concorrência entre eles é acirrada e com isso a sofisticação inócua aumenta; o que gera aumento de custos, sempre repassados ao consumidor; e quando diminui o lucro cortam-se os custos remunerando mal o “produtor de saúde” e afins; pois a lucratividade não pode diminuir; essa ciranda torna a relação médico – paciente cada vez mais superficial e até antagônica.
Criando a:
SAÚDE DE MERCADO
Pagando muito, o consumidor sente-se no direito de usar e abusar e como vingança inconsciente pelo preço que tem que pagar, abusa mesmo; porém, tudo na vida tem um preço e o “castigo” logo vem na forma de descobertas ocasionais que não interferem na longevidade ou na qualidade de vida; mas, a partir do conhecimento de sua existência martirizam e podem levar á doença.

O “produtor de saúde” luta contra o relógio; mal remunerado pelo contratante encurta as entrevistas, e para sobreviver tem que trocar qualidade por quantidade; delega parte do raciocínio diagnóstico aos exames complementares que se tornam exames de diagnóstico sem que o sejam; isso acarreta perda da confiabilidade em todas as partes do processo com prejuízo para todos.
Essa situação gera um paradoxo, pois o consumidor fica mais satisfeito quanto maior seja a quantidade de exames solicitados; porém alguém deve pagar por isso, e o ônus vai para o doente em potencial (contratantes) na forma de aumento de custos; e para o agente de saúde, através da piora na remuneração.

Vejamos a notícia:
23/09/2010 - 13h03 / Atualizada 23/09/2010 - 19h00
Pressão de planos de saúde inviabiliza exercício da medicina, mostra pesquisa.
Em São Paulo.
Atualizada às 18h57
Pesquisa realizada pelo Datafolha a pedido da Associação Paulista de Medicina (APM) e divulgada nesta quinta-feira (23) mostra que planos de saúde ameaçam o exercício da medicina. Ataques à autonomia dos médicos, interferência descabida na relação com os pacientes, pressões para redução de internações, de exames e outros procedimentos são problemas detectados em todo o Estado de São Paulo, segundo o levantamento.
Tipo de interferência dos planos e seguros, segundo os médicos (Fonte: Datafolha/AFP)
Contestar procedimentos ou medidas terapêuticas 79%
Número de exames ou procedimentos 77%
Atos diagnósticos e terapêuticos mediante designação de auditores 71%
Restrições a doenças pré-existentes 71%
Tempo de internação a pacientes 56%
Prescrição de medicamentos de alto custo 47%
Período de internação pré-operatório 46%
Em uma escala de zero a dez, o médico paulista atribui nota 4,7 para os planos ou seguros saúde no Brasil. Considerando apenas as empresas com as quais tem ou tiveram algum relacionamento nos últimos cinco anos, a avaliação é similar: nota média de 5,1 em escala de zero a dez.
Mais de 90% dos médicos denunciam interferência dos planos de saúde em sua autonomia profissional. Em uma escala de zero a dez, é atribuída nota 6,0 para o grau de interferência dos planos de saúde. Nota maior é dada pelos médicos que atuam na capital.
Para cerca de três em cada dez médicos, recusar determinado procedimento ou medida terapêutica é o tipo de interferência que mais afeta a autonomia médica. Outros tipos de interferência apontados se referem a solicitação de exames e procedimentos, atos diagnósticos ou terapêuticos mediante a designação de auditores e restrições a doenças preexistentes.
Foram entrevistados médicos cadastrados no Conselho Federal de Medicina (CFM) que atendem planos ou seguros de saúde particulares e trabalharam com, no mínimo, três planos ou seguros saúde nos últimos cino anos.
A pesquisa ocorreu entre os dias 23 de junho e 18 de agosto. Houve 403 entrevistas, sendo 200 na capital e 203 no interior ou outras cidades da região metropolitana. A margem de erro máxima, para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%, é de 5 pontos percentuais para o total da amostra e 7 pontos percentuais para capital e interior.
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), entidade representante das operadoras, divulgou nota no fim da tarde para esclarecer que "suas afiliadas não fazem qualquer restrição ao acesso a serviços - como internações e exames – desde que estejam previstos nas coberturas contratuais dos planos e nas diretrizes determinadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No ano passado, por exemplo, foram autorizadas 62 milhões de consultas, 146 milhões de exames em todo o país".
O comunicado também diz que as operadoras consideram que o médico é soberano no diagnóstico e tratamento dos pacientes, e que a observância de critérios é fundamental para garantir o bom funcionamento do sistema e a assistência efetiva aos beneficiários.

Veja alguns resultados da Pesquisa Datafolha/APM
Pior plano de saúde Há um empate entre os piores planos do Estado. Medial, Intermédica, Amil e Cassi são os mais citados
Piores honorários Medial e Intermédica dividem o primeiro lugar como os planos que pagam os piores honorários médicos
Procedimentos burocráticos Quando o assunto é burocracia há pulverização dos resultados. Oito planos dividem a primeira colocação como o mais burocrático. Três em cada dez médicos paulistas percebem que todos os planos ou seguro saúde são burocráticos
Interferência na autonomia Cerca de nove em cada dez médicos declaram que há interferência dos planos ou seguros saúde que trabalham ou trabalharam, na autonomia técnica do médico. 52% afirmam que esta prática é comum a todos/maioria dos planos
Maior interferência em tempo de internação Na opinião dos médicos, Amil, Sul América, Cassi, Medial e Bradesco são os planos que mais interferem no tempo de internação
Interferência no período de internação pré-operatório A opinião dos médicos da capital e interior difere quanto ao plano que mais interfere no período de internação pré-operatório. E, 31% acham que todos os planos interferem na mesma intensidade
Glosas (contestações) e medidas terapêuticas Amil, Sul América e Medial são os planos que mais glosam (contestam) procedimento e medidas terapêuticas, segundo a pesquisa
Interferência número de exames e procedimentos Amil, Medial, Intermédica e Sul América destacam-se como os que mais interferem no número de exames e procedimentos
Interferência em atos diagnósticos e terapêuticos mediante designação de auditores Os mais citados são Amil, Medial e Sul América
A tendência é que o quadro piore; pois, o sistema se mostra inviável e cheio de vícios na postura de todos os envolvidos.
É hora de repensar o sistema em todos os aspectos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário